17 de Março de 2023

NOTA PÚBLICA

O Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, por meio da Coordenadoria Estadual no Rio Grande do Norte - IBCCRIM/RN, no desempenho de suas funções institucionais previstas estatutariamente, tem acompanhado, com preocupação e perplexidade, as ações violentas vivenciadas em todo o estado do Rio Grande do Norte desde a madrugada da última terça-feira (14), assim como as respostas estatais apresentadas pelas autoridades públicas.


Ainda que o sentimento de insegurança não se apresente como algo pontual ou restrito a apenas um estado da Federação, desde o ano de 2017 a população potiguar tem se deparado com ações semelhantes, também relacionadas a revoltas diante da sistemática violação de direitos humanos e garantias legais no âmbito do sistema prisional.


Historicamente, observa-se que a precariedade dos estabelecimentos prisionais e das políticas públicas voltadas à reintegração social, em conjunto com a constante ofensa aos direitos humanos das pessoas em privação de liberdade, fomentou o surgimento e consolidação das facções criminosas, que passaram a se legitimar a partir da articulação do discurso de união dos apenados como forma de defesa diante do Estado.


Cientes do incalculável prejuízo e medo que os referidos atos criminosos causam em toda a população, cumpre-nos pontuar que as prisões não são ambientes isolados da sociedade e devem assegurar a dignidade prevista constitucionalmente, cumprindo-se estritamente as disposições da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal).


Tal observação se faz relevante porque a atual situação do Rio Grande do Norte está relacionada com as constatações apresentadas pelo Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), em novembro de 2022, que identificou inúmeras situações de violação de direitos e incivilidade no sistema penitenciário norte-rio-grandense, o que expõe a realidade prisional do estado e inflama movimentos criminosos de implantação do caos que, por sua vez, buscam descredibilizar as autoridades públicas responsáveis por garantir a segurança da população, gerando sentimento de insegurança e pânico social.


Com a esperança de contribuir com o debate público, o IBCCRIM/RN sugere a adoção das seguintes diretrizes, que visam ao aprimoramento da atividade estatal: 


  1. Promoção e centralização das estatísticas e informações seguras sobre o sistema penitenciário norte-rio-grandense, sua engenharia e atores envolvidos; 
  2. Estruturação de políticas públicas aptas a reverter o “estado de coisas inconstitucional” declarado pelo Supremo Tribunal Federal, políticas que cumpram a Lei de Execuções Penais e promovam investigação qualificada e responsabilização pelas mortes, torturas e maus tratos sob custódia e fora dela;
  3. Fortalecimento, nos espaços prisionais, de políticas voltadas ao trabalho, à saúde e à educação no cárcere, como formas de reintegração social e de preservação de direitos da pessoa;
  4. Desestímulo ao hiperencarceramento com a promoção de políticas que simultaneamente envolvam os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do estado do Rio Grande do Norte;
  5. Criação e efetivação do Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Tortura do Rio Grande do Norte e do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate a Tortura do Rio Grande do Norte, com a participação dos mais diversos atores do sistema de justiça criminal, segurança pública, sistema carcerário e representantes da sociedade civil.

Desde a sua fundação, este Instituto tem denunciado as consequências negativas que a pena de prisão gera quando empregada como meio de solução dos problemas mais complexos da nossa sociedade. O que acontece no Rio Grande do Norte também é retrato da ineficiência de políticas criminais que propagam discursos e medidas voltadas ao hiperencarceramento. 


Daí a importância de buscarmos alternativas à prisão e as implementarmos de forma eficiente, em afinado diálogo entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e com os devidos esclarecimentos à sociedade! 


Por fim, ressalte-se que a adoção de práticas populistas ostensivas, pautadas em discursos bélicos, há anos tem se demostrado incapaz de promover a segurança pública, resultando apenas em mais restrições de direitos e garantias fundamentais, no fomento à criminalidade, na difusão do temor social e na exposição dos agentes estatais da segurança, sem que, contudo, a questão seja enfrentada em suas raízes.


Portanto, o IBCCRIM/RN se coloca à disposição das autoridades para colaborar com os trabalhos e discussões, notadamente quanto à adoção de medidas de enfrentamento que possam contar com a atuação conjunta de todos os agentes públicos interessados, visando à intervenção emergencial e estrutural na contenção da atual crise de segurança pública no Rio Grande do Norte, sem ignorar a real necessidade de oferecer condições minimamente dignas de sobrevivência às pessoas encarceradas.


Natal/RN,16 de março de 2023.



RENATO STANZIOLA VIEIRA                                                                                          BRUNO SHIMIZU


ROBERTO MOURA


FRANCISCO ALESSANDRO DE OLIVEIRA ARAÚJO

Coordenador Estadual – IBCCRIM/RN


FILIPE DANTAS DE GOIS

Coordenador-adjunto – IBCCRIM/RN


KRYSNA MARIA MEDEIROS PAIVA

Coordenadora-adjunta – IBCCRIM/RN


LUIZ CLÁUDIO DA SILVA LEITE

Coordenador-adjunto – IBCCRIM/RN


PAULA GOMES DA COSTA CAVALCANTI

Coordenadora-adjunta – IBCCRIM/RN



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