O autor Frederico Fagundes Soares, foi o segundo colocado do 24º Concurso de Monografias em Ciências Criminais. | O presente trabalho tem como ponto de partida uma inquietação sobre a violência policial, problema social concreto expresso no alto número de mortos pelas polícias no país (FBSP, 2018). Trata-se de um problema também observado, por exemplo, nos Estados Unidos (AMNESTY INTERNATIONAL, 2015; ZIMRING, 2017) e na América Latina de maneira geral (BRICEÑO-LEÓN, 2002). No entanto, no Brasil, os estudos nessa área, apesar dos aportes teóricos e empíricos já fornecidos, indicam a necessidade de desenvolver outros trabalhos, principalmente sobre aquilo que autoriza, do ponto de vista das próprias forças policiais, o uso amplo da violência letal, em particular contra pessoas negras, pobres e de bairros periféricos. A Bahia é o terceiro estado em número de mortos pelas polícias (FBSP, 2018), após os estados de Rio de Janeiro e São Paulo, nos quais há estudos consolidados sobre a letalidade policial – vide Cano (1997, 2003), Misse et al (2013), entre outros. Mesmo nesses locais, são muitas as dificuldades enfrentadas por pesquisadores para abrir a caixa de pandora (FERREIRA, 2019), isto é, obter um acesso transparente às instituições policiais e compreender sua lógica de funcionamento. Falar sobre o matar na polícia é um tabu, em face das denúncias feitas por movimentos sociais de um genocídio em curso contra a juventude negra, sob a tutela das autoridades do Estado (FLAUZINA, 2006).